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mariadesconhecida

mar
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é julho. de tempestade. lá fora o vento e a chuva e os dias quentes. não há onde guardar o coração - lembro-me de ti por ser verão. eram nossas as estações mais quentes - e tenho saudades tuas - tu corrias. o sol a estalar a pele. doce de marmelo. limonada. água fria.cevada com bolachas maria. dor nas pernas. escondidas. um baloiço - verde. muito verde - do que mais sinto falta é do teu sorriso. as gargalhadas e os vestidos curtos a bater na anca - dizias: na próxima vida quero ser um pássaro - e és. o mais livre pássaro que o mundo conhece. com o mais livre voo.
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pediu-me então que descalçasse os olhos e, como quem espera alguma coisa, pôs-se a cambalear o corpo para a frente e para trás. não consegui esquecer-me desta imagem, do seu semblante póstumo, o seu perfil a desfocar-se perante a nitidez do meu silêncio. acreditei que fosse um anjo, talhado a ouro, sobre o altar posto, à espera que um qualquer a viesse cobiçar e lhe roubasse também com os olhos, o que eu lhe roubava agora, a juventude. parecia-se com alguém que eu já vira, anos atrás, creio, recordo agora, a face destituída de expressões, história acabada de que já nem me lembrava não fossem tão grandes as semelhanças entre esta e a outra, aquela que me viria a cobiçar o coração. e no peito, irrequieto, abriu-se de novo a ferida, o buraco de onde um coágulo sanguíneo saiu sem eu contar. ainda com o peito aberto, assisti à sua morte. perigosa é a morte daquela que amamos, tão certa como a nossa propria morte, a que nos espera depois de braços abertos nas ruas da solidão.

:hug:


margaretedasilva.blogspot.com/
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à costumeira melancolia entrego as memórias que de ti tenho. fazem-me falta os teus braços a segurar a noite pendente sobre o meu coração, faz-me falta  qualquer coisa que te pertença, mesmo que seja o teu não jeito de me dizer coisas bonitas sempre que tas peço. é tão natural já ter-te na minha vida que estar sem ti se parece com o prematuro fim da primavera. e eu que gosto tanto do outono abandono-me à queda de algumas folhas.

:heart:

à solidão do teu não estar hei-de escrever uma epopeia.
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ergueu-se com a noite, como os gatos no terraço
aos encontrões às paredes.
socorreu-se de alguma dor, algures entre a pele e o osso
e desceu as escadas com a mão no corrimão,
pensava: se a vida é isto prefiro morrer depressa.
depressa se sentou na sacada a falar de amor
com os dedos enlaçados uns nos outros.
a camisa de dormir, comprada nos ciganos,
ficava-lhe bem sobretudo nos ossos da bacia.
sentada esperou, espreguiçando as palavras de encontro à chuva,
esperou a manhã cair sobre o horizonte
composto de copas de casas e postes de electricidade.
depois levantou-se com o coração afundado na barriga
e disse: o amor é longe.


:heart:

naruadecima.blogspot.com/
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